domingo, 13 de abril de 2014

Viagem Lisboa-Barcelona

Objectivo: Tribal Art Festival
Lucky charms: Ai que tenho cada vez mais... O anel aliança, o anel toi toi toi, o anel da minha mãe. Pus a pulseira da Rachel Brice, Oriental Dream 2008, e este é mesmo um lucky charm específico para estas ocasiões. Trouxe o meu Rainbow Dash porque estou a viajar sozinha. Pediram para os passageiros se sentarem e já estou nervosa... 
Desligaram os sinais do cinto de segurança. Barry White, Love's theme. Sempre que vôo, e tenho sempre medo, invade-me uma qualquer necessidade de introspecção. Penso, escrevo, leio, analiso, faço planos. Desta vez estou a preparar os exercícios e playlist para o festival. Se estou nervosa?... Acho que sim, um pouco. Porque não me quero desiludir nem aos outros. Porque por vezes duvido se o que tenho para dar faz alguma diferença, se é especial. O que me faz acalmar e saber que não tenho de ter receio é que sei que dou sempre tudo, que sou o que dou. Jill Scott, Gettin' in the way. Questiono-me muitas vezes se algumas coisas que para mim são tão claras, tão únicas, são só coisas que eu vejo ou se são visiveis a todos. Existe um ser. E existe um querer ser. Parece-me óbvio. Como o meu querido Onio diz "being effortless". É tão mágico quando alguém é assim. É. Diferente de tentar ser.
A qualidade do que fazes e crias revela-se na aprovação e exultação externa? Se está à vista e não é notado é porque é regular, normal, mais um? Se assim não for será retirado rapidamente desse local ordinário e colocado noutro patamar. Cee Lo Gree, Satisfied. Se já foi visto e não aconteceu nada, baaaam! é o que é, só isso. Voltamos ao effortless theory. Se tentas muito, demasiado tempo, talvez a culpa não seja de quem não vê, mas de quem faz que se engana. Será? Questiono-me.
Debato-me com alguns cliches e lugares comuns. "Nasceu com o rabo virado para a lua". Astrud Gilberto, Moonrain. Não eu, outros. "Estava no lugar certo à hora certa", "tem uma estrelinha". Dorian Concept, Mesh Beam Splitter. Na realidade não sinto que se possa fugir a isto. Sorte ou azar. Acaso. E podemos estar atentos ao acaso? Tentar controlar ou provocar o acaso? Tentar estar à hora certa no lugar certo? The effortless issue. O ser. E o tentar ser. Ursula Rucker, Soon. Acho que sou e sou apologista do ir. Eu sou e tento tanto ser. Vivo paradoxalmente nos dois lados e vejo-me desde o lado que é o outro quando estou aqui. Como é ser e ver tentar ser e tentar ser a ver o que é ser?
Questiono o porquê e como de tanta coisa. Tito Nieves, No puedo. Mas instintivamente e convictamente vou e isso não questiono. Porque desde sempre sinto que tenho de fazer o que tenho de fazer e isso não é questionável. Mesmo que não saiba o que é a cada momento esse fazer. Ramones, Gimme gimme shock treatment. E na verdade o que acontece, o que vai acontecendo, são as consequências provocadas por este ir. Faço a partir do que surge e agarro como se o tivesse procurado. E se tiver de procurar sem surgir, não sei senão esperar o que surge para continuar. Sempre como se tivesse procurado. Mariza, Duas lágrimas de orvalho. E no acaso as músicas surgem, como adoro o shuffle do meu ipod. Se tenho uma base, um estado de partida, no acaso ele é volátil e a cada mudança certeiro. Caetano Veloso, Dans mon isle. Acenderam os cintos de segurança. Parece que o vôo está a terminar, 15 minutos. Última música, Guru's Jazzmatazz, Intro.
Vou tomar a intro como um sinal de que esta viagem é uma introdução para algo. Deu para mais uma.Hudson Mohawke, Star of a story. Turbulência. Suo da mãos. Agarro o Rainbow Dash.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sou.

Esta vai sem filtro.
São 18h e sinto que acordei há duas horas, embora tenha acordado bem mais cedo. Não sei se sintoo tempo a passar entre os dedos ou se é suposto ser este o fluir natural do tempo. Angustia-me mais do que alguma vez pensei esta sensação de já não ser quem era ou não estar a ser aquilo que projectei há 10 anos atrás. Também não sei quem hei-de culpar, se os outros, se a mim própria ou simplesmente ao facto de ter sido sempre uma miúda com mais sonhos que realidade, com mais vontade do que é possivel o meu mundo acompanhar.
O tempo continua a existir da mesma forma, na mesma proporção, no entanto para mim parece que existe qualquer diferente, que me faz sentir que os dias têm um número diferente de horas ou que eu tenho uma velocidade difernte das horas e de mim própria há um tempo atrás. 
E este limbo??? Entre o paralisado e o empurrar-me a mim própria para não cristalizar onde estou, que é em lugar nenhum. Como é possivel que quem sempre correu em frente, tantas vezes sem direcção, sem ver sequer o que estava à frente, se sinta só assim... parado. E não obstante, o mais agonizante, aquilo que me deveria fazer explodir, mas me está a deixar tal e qual como um peão que pára na estrada qd não sabe se há-de ir para a frente ou voltar para trás, é sentir que há outros, mil outros que estão a fazer o que eu sempre fiz, a correr para a frente sem medo de cair. Porque simplesmente não interessa onde chegamos, o que nos faz sentir vivos são aqueles momentos em que sem sabermos exactamente porquê, nos sentimos inexplicavelmente vivos, acessos, em fogo, pulsantes, prontos a conquistar o mundo.
E paralisada procuro essa sensação e só a encontro atrás e procura projectá-la para a frente, empurrá-la para outro sítio, além de mim, para além de mim. E durante todo este processo mantenho-me aqui, entre o que fui, o que não sei ser e aquele ponto no futuro que só me faz olhar para trás e projectar o que era suposto ser agora, segundo uma utopia fantástica de que sou o que sinto ser e me paralisa terrivelmente quando não me encontro.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ele enche o espaço vazio



"Estás a ver, está ali um tipo e está lá toda a gente? Ele tem a obrigação de soltar cá para fora o que toda a gente tem dentro da cabeça. Começa o primeiro chorus, depois arruma as ideias, as pessoas, sim, sim, mal o topam, e depois ele encontra o seu destino e tem de soprar à sua medida. De repente, algures no meio do chorus, ele apanha-O; toda a gente levanto os olhos e compreende; eles escutam; ele agarra-O. O tempo pára. Ele enche o espaço vazio com a substância das nossas vidas, confissões da tensão do baixo ventre, recordações de ideias, arranjos de velhos sopros. Ele tem de soprar através das pontes e voltar a fazê-lo com um sentimento infinito que se entranha dentro da alma durante essa melodia momentânea de tal modo que toda a gente sabe que o que conta não é a melodia mas o facto de ele O ter." Jack Kerouac, Pela Estrada Fora

domingo, 23 de setembro de 2012

Quase quente


O dia acordou num silêncio de barulho crescente. Está quase quente já. Terminei a noite com um sonho mau, sempre próximo aos meus medos que não se auto consomem. Cheirei-te na vontade de te engolir e nos meus braços de polvo abracei-te para o meu corpo se sentir cheio. A lua brilha forte num céu já claro e as luzes extinguem-se. O desejo que pedi é teu também. Bom dia deusa.

Tomorrow's Luck


Consigo parar quando o meu mundo interior pára. Quando deixo de gritar. Quando deixo de sofregamente querer e só ouço. Quando o vento faz sentido existir e os cheiros de chuva e raios secos se confundem no teu perfume.
Consigo parar quando sei que hoje e amanhã e talvez depois estão aqui, controlados de surpresas expectantes, a arder de Outono quente e perspectivas de dias quentes e noites frescas de casaco fino.
Consigo parar quando me sento às quatro da tarde, como se fossem nove da manhã, na proximidade do acordar, e onze da noite na euforia de uma noite inesquecível.
Consigo parar porque o chão mexe, o mundo me desafia e a temperatura muda ao sabor das nuvens que podem decidir chorar a qualquer momento.
Consigo parar porque é hoje, porque te acompanho e caminho sentada de caneta na mão. Para longe daqui. Para dentro. Para amanhã.
Está vento e chegou o Outono.
Entra.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Luanda

Luanda.
Há coisas que me deixam com dificuldade em respirar. Me deixam em suspenso, sem conseguir saber como reagir. A sensação é próxima a um quase atropelamento. Aquele segundo em que paralisamos antes de conseguir decidir se corremos para o outro lado ou se recuamos. Se ficamos estáticos, o mundo passa por cima de nós.
Nãoter expectativas é irreal. Conseguir absorver alguma coisa de imediato também.
O Pedrinho vive em Gamek à direita. O motorista preto de sorriso fácil.
Início de Inverno e estão 30º. O nome do hotel é perfeito, Calor Tropical. Quando o ouvi no aeroporto pareceu-me o nome ideal para um motel em Lisboa. Daqueles bem rascas. O almoço para duas pessoas custou 86$.
Fomos ter com o Zé Luis, 50 e poucos anos, senhor que me parece ter 5 vidas paralelas, brasileiro, com uma energia contagiante e um óbvio prazer em viver. Bem.
Bay Side, no centro da cidade. 8,50$.
Reunião com algum ministro relacionado com o petróleo. A gasolina custa cerca de 60 cêntimos por litro. E aumentou, porque era 40.
Ficamos com o Perinho para ir até À Ilha de Luanda. Molhei os pés no mar.
Vi no trânsito um senhor a limpar o tablier do carro com um pincel enquanto conduzia.
2 cafés no meio da rua; 500 Kuanzas.
Voltamos para o centro e dois putos, lavadores de carros, de bermudas e chinelos, batem-se até estarem a sangrar. Estamos parados nas traseiras de um prédio, o Pedrinho motorista à espera do chefe Zé Luis. No chão lama e os putos caem, rebolam, esmurram-se, pontapeiam-se na cabeça e a audiência aumenta. "Beberam e fumaram Biamba ou Malange, ficam malucos!" Eu só ouço os berros "Vou-te matar!"
Fim do dia de sol, 17h30. Dentro de um Dodge de vidros fumados e ar condicionado no máximo, já não há motorista. Somos 4 agora. O chefe Zé Luis tem um amigo, consultor também julgo.
Sair do centro através de um musseke até à Avenida da Samba para ir para Talatona.
Quatro bananas no meio do trânsito, directamente de uma cesta enorme na cabeça de uma mulher que transporta um bebé às costas e mais um saco na mão... 300 kuanzas. Duas depois chegamos ao destino.
Prédios, espaços e uma cidade diferente aparece. Bebo uma Cuca no Zodabar e temos uma acesa conversa sobre Luanda. Voltei a não pagar nada.
Jantar. Pizza noutro Bay Side com outros amigos do "chefe". Outra Cuca.
Dia longo e fico em silêncio por nada conseguir dizer.
Luanda.